BC independente descola do bolsonarismo e favorece lulism

Por ABJ [caption id="attachment_468418" align="alignnone" width="600"] Não contaram os adversários de Lula com a conjugação de fatores internos e externos para o jogo ir virando a seu favor.[/caption] Não contaram os adversários de Lula com a conjugação de fatores internos e externos para o jogo ir virando a seu favor. O presidente Lula e seu escudeiro ministro Haddad comeram o presidente do BC Independente, Roberto Campos Neto, pelas beiradas como se fosse mingau quente, como diria Brizola, a partir da vitória política da aprovação, no Senado, do estruturalista Gabriel Galípolo para diretoria do Banco, sinalizando sua candidatura ao cargo, no próximo ano. A intransigência de Neto parecia intransponível sabendo que possui mandato descolado do de Lula para administrar a taxa de juro ao largo dos interesses do governo e de sua política comprometida com os avanços sociais prometidos em campanha eleitoral. O confronto entre Palácio do Planalto e Ministério da Fazenda, de um lado, compromissado com desenvolvimento sustentável, para vencer a recessão e o neoliberalismo, e o Banco Central Independente, de outro, em dessintonia mecânica, apolítica, meramente técnica, do governo, sinalizava desastre irremediável. Não haveria jeito, senão esperar o fim do mandato de Neto, em vigor até final de 2024, para que Lula pudesse conduzir política monetária consequente com a política fiscal de verniz social. O governo, submetido a uma maioria indesejável no Congresso comandada por Arthur Lira, indisposto a flexibilizar-se frente a Lula e disposto a caminhar com intransigência com mercado financeiro, dando as cartas, no parlamento dominado pelo fascismo bolsonarista, estaria, então, em mãos lençóis. Mas não foi o que aconteceu, que está acontecendo; não contaram os adversários de Lula com a conjugação de fatores internos e externos para o jogo ir virando a seu favor. CONSPIRAÇÃO PRÓ LULA No plano interno, o presidente recompôs a sua política social e econômica desenvolvimentista, destruída por Bolsonaro, embora, relativamente, travada pela alta taxa de juros imposta pelo BC Independente sob aplauso do mercado especulativo, travando produção e consumo. Essa queda de braços começou a trabalhar a favor de Lula em face dos acontecimentos internacionais detonados pela guerra na Ucrânia que levou à polarização os Estados Unidos e Europa, graças à inflação que promete criar ambiente de tensão política internacional. Os europeus, desesperados pelas sanções econômicas impostas pelos americanos à Rússia, fornecedora de matérias primas e energia barata para eles, viram na América do Sul a saída para suas agruras impostas por Washington em forma de exportações caras de insumos energéticos ao velho continente a preços superfaturados, elevando a inflação à loucura para as famílias europeias. Os líderes europeus, temerosos quanto às próximas eleições parlamentares, correram para fechar acordo entre União Europeia e Mercosul para desovar produção do velho continente na América do Sul. Com isso, abre chances de negociação que estão sendo travadas nesse instante, cujas consequências serão aumento de exportações brasileiras, que estão crescendo, espetacularmente, nos últimos meses, melhorando balança comercial com superavit no balanço de pagamento. É a Europa que, agora, precisa, desesperadamente, da América do Sul, em particular do Brasil e não o contrário. Os capitalistas europeus fazem opção preferencial pelo Brasil e, consequentemente, ajudam a baratear o dólar na praça. Os americanos, já preocupados com perda de mercado para a China, começam a arrancar os cabelos com a onda da desdolarização desencadeada pela guerra na Ucrânia.

DESDOLARIZAÇÃO AMÉRICA DO SUL E APAVORA TIO SAM

Depois que Rússia e China estreitaram suas relações comerciais em moedas nacionais, sem utilização do dólar, a moeda americana começou a se desvalorizar no mundo, perdendo competitividade, principalmente, para o yuan chinês. A moda da desdolarização pegou na América Latina, África e Ásia e deverá se ampliar na próxima reunião dos BRICS, na África do Sul, em agosto, criando fato político internacional que alarma Washington. Argentina e Brasil ensaiam o mesmo movimento e o FMI e Banco Mundial se estremecem, como agentes econômicos e financeiros do império americano, na cena internacional, onde perdem, relativamente, a importância que tiveram em outros tempos. Lula, propagandista da desdolarização, como novo presidente pro tempore do Mercosul, alarma governo Biden, pois influencia continente sulamericano em favor de nova realidade monetária global, adequada aos interesses não de Washington, mas de China e Rússia e seus aliados na geopolítica Sul-Sul. Os latino-americanos desejam seguir Lula na tarefa de incrementar o comércio regional e atrair capital europeu para promover aqui dentro as inversões em indústrias. Querem que os capitalistas industriais instalem por aqui suas indústrias para transformar matérias primas locais em manufaturados; latino-americanos desejam exportar valor agregado e não mais funcionarem como celeiro de matérias primas baratas, como destacou presidente da Argentina, Alberto Fernandez, na reunião do Mercosul. NOVO DISCURSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO-AMERICANA Pressionados pela inflação, os europeus estão sem competitividade para produzir e tendem a perder mercado não apenas para China mas também para a América do Sul onde indústrias internacionais são atraídas pelo mercado interno, no compasso da redução de juros. Lula, portanto, aumentará a retórica dos juros baixos, para atender a lógica reclamada pelo comércio e indústria, virando de cabeça para baixo a política monetária do BC que impede competitividade internacional do Brasil. Chegou a hora da atração dos investidores para produzir barato a fim de reduzir a inflação na Europa penalizada pelas exportações americanas, depois que Tio Sam intensificou sanções comerciais contra a Rússia. Todos esses fatores, portanto, conspiram para a estratégia econômica de Lula de incrementar discurso desenvolvimentista que reverbera no Congresso em favor não da política monetária de Campos Neto, mas na do presidente, que força a barra, politicamente, para que os congressistas flexibilizem cada vez mais o ajuste fiscal. A crença dos congressistas em Lula se amplia com racha entre as forças bolsonaristas, interessadas em se descolarem de Bolsonaro para colaborar com o lulismo de olho nas eleições municipais de 2024, assim como os banqueiros que fizeram jogo duro com o Planalto, até agora, se flexibilizam para influenciar o BC Independente a diminuir a Selic. Dessa forma, a conjugação de fatores internos e externos, associados à retórica política desenvolvimentista de Lula em defesa da melhor distribuição da renda tende a apressar, por fim, aprovação da reforma tributária, pela qual se bate, agora, até os neoliberais, temerosos de verem seus ativos se desvalorizarem, se a economia não retomar o crescimento sustentável. FONTE https://www.brasil247.  ]]>

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