Café especial transforma pequena produtora rural de Rondônia em uma mulher de negócios reconhecida nacionalmente

Robusta Amazônico fortaleceu a cafeicultura rondoniense e alavancou a produção no estado

Casal de cafeicultores agradece diariamente as conquistas da família e o sucesso do Café da Luz – Foto: Giliane Perin 

Quando veio do Espírito Santo para Rondônia, na década de 1980, o objetivo de Nilcineia Rubim da Luz era buscar uma vida melhor, em um estado em plena formação, ao lado do esposo João Alves da Luz.

O início não foi fácil e o casal, sempre morador da área rural do município de Cacoal, precisou enfrentar inúmeras dificuldades. Ao longo dos anos foi preciso arriscar-se em diversas atividades diferentes como produção de leite, café, peixes e mel. Escolhas que sempre foram definidas em conjunto, em busca de um futuro mais promissor para a família.

“Principalmente o início foi muito difícil, minha nossa! Viemos no escuro! Sem nem mesmo saber o que a gente ia encontrar aqui em Rondônia. Era 1986 e a gente se arriscou com a cara e a coragem mesmo. Deixamos tudo para trás acreditando que aqui a gente podia ter uma chance de crescer, construir uma família, de ser alguém na vida”, relembra Nilcinéia.

Uma busca que valeu a pena e agora, quase quarenta anos depois de chegar a Rondônia, a Família da Luz tornou-se uma referência no estado, ganhando inclusive destaque no cenário nacional.

Família da Luz recebeu um trator cafeeiro como prêmio pelo 1º lugar no Concafé – Foto: Seagri

Com uma propriedade pequena, o “Sítio Coração de Mãe​”, Nilcinéia e João viram suas vidas serem verdadeiramente transformadas quando decidiram apostar em um tipo de café que ainda era novidade no estado e em todo o país. O Robusta Amazônico (Coffea Canephora) foi desenvolvido justamente para se adaptar à realidade da Amazônia Brasileira.

Esse tipo especial de café, como explica a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é resultado da mistura entre cafés conilon trazidos para Rondônia ainda na década de 1970 por produtores imigrantes dos estados de Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo e materiais genéticos 100% Robusta, trazidos pela Embrapa Rondônia em 1990, diretamente do Instituto Agronômico de Campinas (SP).

“Já produzíamos café, mas foi a partir de 2008 que iniciamos as nossas lavouras de café especial, do tipo Robusta Amazônico. Iniciamos devagar, primeiro fizemos uma experiência! Plantamos mil pés de café e conseguimos colher 42 sacas. Isso nos animou e, desde o início, o objetivo foi produzir um café especial, de qualidade e com foco na sustentabilidade”, afirma a cafeicultora.

Assim como aconteceu com a Família da Luz, o início do plantio do café Robusta Amazônico em Rondônia foi tímido. Apenas na última década a produção destes grãos especiais começou a ganhar mais destaque no estado, especialmente quando o governo estadual lançou o primeiro Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café de Rondônia, em 2016. O Concafé surgiu justamente com o objetivo de incentivar os produtores rurais a cultivarem o Robusta Amazônico. Uma decisão bastante acertada pois, de lá para cá, o avanço tem sido constante e a produção segue aumentando ano após ano.

“Hoje a nossa média de colheita é de 100 sacas de café por hectare plantado. Aqui no sítio temos 12 mil pés plantados em três hectares, então alcançamos uma média de 300 sacas por colheita. Isso porque nem todos os pés plantados estão em produção”, explica a cafeicultora.  Vale destacar que cada saca de café pesa 60 quilos.

O compromisso com a produção de um café especial, como relata Nilcinéia, traz grandes desafios e a família se mantém unida desde o início. Nilcinéia e João têm três filhas, Janaine, Janiele e Larissa, e dois genros, Nerio e Magaiver. Todos se dedicam ao Café da Luz. “Para uma propriedade pequena e familiar como a nossa, os desafios são muitos e, para dar conta, toda a família se envolve em algum momento. Desde o plantio, o cuidado com a lavoura, a colheita, a separação dos grãos, o empacotamento, as vendas, as redes sociais. Enfim, às vezes até os netinhos querem ajudar”, orgulha-se a produtora rural. A filha Janiele e o genro Magaiver, inclusive, mudaram-se para a propriedade para ficarem ainda mais próximos da produção e do trabalho.

Em 2024, Nilcinéia da Luz conquistou o 2º lugar no prêmio nacional Sebrae Mulher de Negócios – Foto: Cíntia Nunes

Além do trabalho árduo, ao longo de todo esse percurso, Nilcinéia e a Família da Luz nunca se acomodaram. A matriarca entendeu que era preciso buscar conhecimento, aprendizado e também a formalização. Com apoio do Sebrae RO, em 2022, deram início ao registro da marca para proteger a identidade e os direitos da agroindústria. Hoje a família garante o direito exclusivo da marca Café da Luz em todo o Brasil.

“Eu sempre falei para o João, para minhas filhas e genros se manterem em uma constante busca por conhecimento, técnicas e informação. Tudo o que a gente aprende, e que pode ser útil na nossa produção e na trajetória do Café da Luz, nós vamos atrás. Hoje nós temos orgulho em dizer que o nosso café é uma produção praticamente artesanal, de uma família humilde, mas que sempre acreditou que podia conquistar o seu espaço”, destaca Nilcinéia Rubim da Luz.

Essa busca por conhecimento, aprimoramento e excelência do produto cultivado pela família tem dado certo desde o início. Já em 2021, o Café da Luz conquistou o 3º lugar em Qualidade no Prêmio Concafé e, no ano seguinte, sagrou-se campeão do mesmo concurso ao conquistar o primeiro lugar na 7ª edição da premiação. Ainda em 2022 veio o reconhecimento nacional, quando o Café da Luz foi eleito o segundo melhor café do Brasil no concurso Coffee of the Year Brasil.

Outras duas importantes conquistas foram registradas no último ano. Em 2024, o Robusta Amazônico cultivado pela Família da Luz garantiu o 1º lugar no Prêmio CNA de Torra Artesanal do Brasil, conferido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Voltando a Rondônia, no Concafé 2024, o Café da Luz também se manteve em destaque garantindo o 2º lugar na categoria Sustentabilidade e o 4º lugar no ranking de Qualidade, seguindo firme entre os melhores cafés produzidos no estado.

“É o reconhecimento de muito trabalho e dedicação. Trabalhamos em família e nos esforçamos todos os dias para oferecer o melhor café possível. Hoje nosso café é bastante conhecido na nossa região, é referência no estado e já foi apresentado ao Brasil e ao mundo em exposições nacionais e internacionais”, celebra a cafeicultora.

Mas além das conquistas do Café da Luz, o espírito empreendedor e a dedicação de Nilcinéia Rubim da Luz também chamaram a atenção e já garantiram à produtora rural reconhecimento local e nacional.

Troféu Estrelas Empreendedoras foi concedido a Nilcinéia pelo Conselho Estadual da Mulher Empreendedora e da Cultura – Foto: CMEC/RO

Em novembro de 2024, Nilcinéia foi agraciada com o Troféu Estrelas Empreendedoras, concedido pelo Conselho Estadual da Mulher Empreendedora e da Cultura do Estado de Rondônia (CMEC/RO). No mesmo mês, a cafeicultora rondoniense se destacou entre quinze empreendedoras de todo o país, entre mais de mil concorrentes, que foram premiadas com o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, em cerimônia realizada na capital de Santa Catarina. A premiação é composta por três etapas: estadual, regional e nacional e Nilcinéia Rubim da Luz, do interior de Rondônia, conquistou o segundo lugar nacional na categoria Produtora Rural.

“Minha esposa sempre foi companheira. Sempre trabalhamos juntos, desde os tempos das crianças pequenas com lavouras longe, na fundiária.  Hoje continuamos juntos na colheita, na seleção dos grãos e na agroindústria. Tenho maior orgulho da esposa amiga e companheira, dos momentos difíceis e momentos de alegria.  Agradeço sempre a Deus pelas conquistas que tivemos juntos e pelas conquistas que ela tem alcançado. É uma mulher merecedora, empreendedora uma mulher de negócios”, emociona-se o cafeicultor João da Luz.

João reconhece diariamente o esforço, a dedicação e o amor da esposa pelo Café da Luz – Foto: Giliane Perin

 

(Texto: Giliane Perin) 

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