Estadão História por Sergio Denicoli • [caption id="attachment_470381" align="alignnone" width="600"] Caso das joias e avanço das investigações promovem discussão nas redes sobre futuro do ex-presidente Foto: Bolsonaro: Adriano Machado/REUTERS | Relógio: Estadão[/caption] Na política brasileira a narrativa precede a ação. A força da opinião pública parece influenciar grandes decisões no Congresso e no Judiciário. Foi assim com os processos de impeachment de Fernando Collor e Dilma Rousseff, com a prisão de Lula e também com a soltura dele, que encontrou um apoio narrativo na Vaza Jato. Agora uma nova dinâmica discursiva parece preparar o país para uma decisão que, se ocorrer, não será surpresa, pois já migrou das redes para a imprensa e tem pautado conversas dos mais diversos grupos. Trata-se da ideia da prisão de Jair Bolsonaro. O tema ganhou um forte impulso este mês, com a revelação de que as joias recebidas pelo ex-presidente haviam sido colocadas à venda. Dados apurados pelo blog mostram que, em agosto, as publicações que mencionam os termos “Bolsonaro” e “prisão” tiveram um crescimento gigantesco de 2.556%, em comparação com o mês de julho. A amostra observou 219 mil publicações online. E na imprensa internacional, em reportagens publicadas em inglês, registramos um aumento de 980% no volume de matérias que aventam a possibilidade do ex-presidente ser detido. O assunto se tornou tão visível que chegou a incomodar Carlos Bolsonaro. Ele foi às redes pedir aos seguidores que “parem com esse negócio de prisão”. E complementou, referindo que os apoiadores do ex-presidente que abordam o tema “parecem aqueles caras que amam viver a síndrome de Estocolmo” – um fenômeno psicológico no qual um sequestrado passa a ter apreço pelo sequestrador. Carlos Bolsonaro parece antever que, colocada a hipótese da prisão, a transformação das conversações em realidade pode ser questão de tempo. Bolsonaristas veem o ex-presidente como vítima que está sofrendo uma grande perseguição por parte do “sistema”. Mas encontram dificuldades em encampar uma defesa robusta que evite a mácula na imagem de homem simples e honesto que Bolsonaro buscou cultivar. No mínimo, o escândalo deixa uma dúvida na cabeça das pessoas, e é esse mecanismo que desarma muitos conservadores, atuando na legitimação narrativa de uma possível detenção. Já a esquerda acredita amplamente no envolvimento de Bolsonaro em eventuais crimes e entende que a prisão é o único caminho. O fato é que a questão está posta. O Brasil normalizou a ideia da detenção de Bolsonaro e tanto aliados quanto detratores se perguntam agora: “quando isso ocorrerá?”]]>