Turistando na Terra de Bergoglio
Entre Evita, Doramas e Ventanias
Por Geraldo Gabliel
FERNANDA PANUCCI
Rua Rio Branco, 2145 SDAC
76964-082 – CACOAL RO
BRASIL
Comovido pela despedida do Papa Francisco e consultando aqui os seus botões, Geh Latinus, como havia prometido, parla sobre alguns eventos na vizinha Argentina, e a protagonista deste relato é sua mui amiga Fernanda. Foi uma aventura, digna de ser relembrada com a sensação de – “Quero mais! Faria de novo!:
– Fernanda Panucci, turistando na Argentina – La tierra de los hermanos! Sentindo-se a própria Evita Perón, cantarolando, como a Madonna “Don’t Cry For Me Argentina, ainda que, em seu coração, o domínio é do Dorama:
– Estive a um passo da Terra do Fogo, sem me queimar. Alguém me disse por lá que, se eu não entendesse o portenho, eu ia “pasar la fruta”… me preocupei, eu não queria passar nada! E, pela tarde, tirar “la siesta”. Quê?!
안녕하세요 (annyeonghaseyo)
Fernanda sempre sonhou em conhecer a Argentina, a terra de Maradona. E quando finalmente pisou em Buenos Aires, sentiu-se a própria Evita Perón, como se estivesse no domínio da Casa Rosada e entoando Don’t Cry For Me Argentina. Mas sejamos honestos: em sua cabeça, os acordes se misturavam com a trilha sonora de algum Dorama coreano – porque, no fundo, sua alma era dramática à la coreana.
Na Argentina, quem tem boca… não “pasa la fruta” (fome) e tira la siesta.
Cada esquina da cidade era um convite à alegria, e ao bailado. O tango nos becos, o aroma inconfundível do churrasco à la parrilla argentino impregnando as ruas e a ginga portenha transformando cada conversa em um bom papo de amigos regado a um bom vinho. Depois, tira uma pestana – dormir um pouco.
Mas foi más allá de la capital que as surpresas começaram de verdade. Em Mendoza, ela conheceu o imponente Aconcágua, com seus 6.962 metros de altura, e percebeu que seria melhor admirar a montanha à distância do que tentar escalá-la – escalar montanha não era o seu forte. Depois, chegou à Terra do Fogo – sem se queimar, é claro – mas com a certeza de que por ali, o vento não era brincadeira. E esse vento atiçaria o fogo, queimaria suas melenas?
Falando em vento, sua passagem por Caleta Olivia foi marcada por um fenômeno inesperado: rajadas de 80 km/h que pareciam querer descolar a alma do corpo, ameaçavam tombar caminhões baús nas curvas sinuosas das carreteras.- “E se eu me agarrar ao chão como as plantas?”, pensou, lembrando que, no sul, onde venta muito, as raízes das plantas são mais profundas. Teve até uma ideia científica genial: testar a teoria da seleção natural com cenouras ao vento. (Sim, ela anotou tudo para um experimento futuro). Isso não entrendi!
Mas não só a sua alma e os caminhões sofriam com o vento – seus ouvidos, coitados, ficaram cheios de um pó finíssimo, o que a fez compreender por que todas as casas da região eram vedadas para evitar a poeira invasiva. Como se não bastasse, ela enfrentou três dias sem água potável e, num surto de coragem, decidiu tomar banho nas águas super geladas do mar. A lua refletia nas espumas, e por um segundo, sentiu-se em um filme épico… até que teve um insight aterrorizante sobre monstros marinhos noturnos. Saiu correndo antes que sua coragem a traísse.
Ainda no sul, ficou fascinada com as focas e leões-marinhos que repousavam nas rochas ao longe, indiferentes à presença humana. Ali também aprendeu que, apesar de tanto petróleo na região, a água era escassa – e o vento constante não tornava as coisas mais fáceis.
Ao longo da viagem, percebeu que a vegetação do deserto dos Pampas era completamente diferente da vegetação de nossos biomas brasileiros, e por vezes avistava lebres correndo entre os arbustos. Sua mente divagou sobre a etimologia das palavras: no Brasil, alvo significa objetivo, enquanto na Argentina usa-se blanco. Será que esse significado veio das lavadeiras tentando branquear as roupas ou da ideia religiosa da santidade como algo puro e branco? (Como as vestes de Bergóglio).Talvez nunca se saiba.
E, claro, havia os típicos bairrismos entre brasileiros e argentinos, algo que se espalhava até pelo Uruguai, onde ouviu uma piada cruel sobre los hermanos: “O melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo que ele vale e vender pelo que ele acha que vale.” Riu, mas ficou pensativa sobre essa eterna rixa entre vizinhos. – Já não bastam as intrigas pela rivalidade no Futebol?
Também aprendeu que os cachorros refletiam a personalidade dos donos – e que, se quisesse visitar uma família argentina por ali, bastava observar os cães para saber se os moradores eram receptivos ou mal-humorados. – Verdade que os pets refletem o caráter, a natureza e comportamento do dono?
Por fim, “¡Qué bien!”:
Entre Evita, Doramas e ventanias, Fernanda percebeu que a Argentina era mais do que um país. É um mundo de histórias, peculiaridades e descobertas inesperadas – e que, assim como um bom Mate (chimarrão), seu sabor continuaria na memória por muito tempo. – Não contei pra você, mas Fernanda não estava sozinha…
Assim, se despede: – ¡No Llores por mi Argentina! ¡Hasta la vista…
E no Reino do Dorama – Inclinando levemente a cabeça: 안녕 (annyeong)!