Coluna O Briefing – A Geração Z não quer saber de trabalhar? Ou sua empresa tem medo de inovar?

Uma história para refletir

(Por Maycon Klippel) – Lucas, um jovem da Geração Z, sempre foi conectado com tecnologia desde pequeno. Para ele, redes sociais, aplicativos e soluções digitais são naturais, parte do seu dia a dia. Quando saiu do ensino médio, decidiu buscar uma oportunidade de trabalho, mesmo que temporária, em um mercadinho tradicional no bairro, um negócio familiar que há anos funciona sem grandes mudanças.

No primeiro dia, Lucas percebeu que o dono do comércio, senhor João, nunca investira na divulgação online, nem tinha um perfil na internet, e ainda enfrentava dificuldades com o computador. O senhor João pediu ajuda ao Lucas para tirar uma nota do sistema ou atualizar uma planilha, tarefas que o jovem fez com facilidade. Contudo, também percebeu um desejo de ficar mais conectado às possibilidades digitais, de colocar o negócio no século XXI.

Porém, o senhor João tinha uma visão diferente do jovem. Para ele, Lucas parecia preguiçoso e desinteressado, pois não gostava de fazer serviços manuais, como arrumar prateleiras, carregar mercadorias ou fazer tarefas mais rudes. O dono do mercado julgava que a saída do Lucas era por falta de vontade de trabalhar de verdade, mesmo que o jovem estivesse tentando propor ideias de inovação. Ele não gostava de mudanças ou de tarefas que envolvessem esforço físico, preferindo manter tudo como sempre foi.

Empolgado, Lucas imaginava que poderia transformar aquele espaço com ideias inovadoras — criar uma página no Instagram, divulgar promoções, usar aplicativos para estoque. Mas logo se deparou com resistência. O senhor João, resistente a qualquer inovação digital, insistia que trabalhos manuais eram essenciais e que o jovem não tinha disposição para isso.

Depois de algumas semanas, Lucas se viu frustrado. Sua energia, criatividade e vontade de contribuir para o crescimento do negócio não eram valorizadas pelo jeito que o dono enxergava suas ações. Para o senhor João, Lucas parecia preguiçoso e sem vontade de fazer o que ele acreditava ser trabalhos de verdade. Como consequência, seu pensamento começou a se consolidar: procurar outro lugar, onde pudesse desenvolver suas ideias, fazer a diferença e, talvez, crescer profissionalmente.

Assim, Lucas percebeu que, apesar de sua vontade de inovar, precisava sair de um ambiente que não reconhecia suas potencialidades ou valorizava suas habilidades. Estava na hora de buscar um espaço que estivesse mais alinhado com seu perfil, que enxergasse o valor da tecnologia e de uma visão diferente de trabalho — um lugar onde sua geração pudesse realmente fazer a diferença.

O contexto atual do jovem no mercado de trabalho

Nos debates sobre o mercado de trabalho, uma questão frequente é a percepção de que a geração Z — os jovens nascidos após 1997 — são preguiçosos ou desinteressados, preocupados apenas com o Instagram e sem vontade de se dedicar ao emprego. Mas será que esse julgamento realmente reflete a realidade? Ou será que a questão está mais relacionada à maneira como as empresas se relacionam com esses jovens e às suas próprias metodologias de inovação?

A narrativa da preguiça é uma meia-verdade

Conforme apontado pela Forbes, muitos jovens dessa geração trazem benefícios ocultos ao mercado de trabalho. Eles valorizam equilíbrio, praticidade e ética, e estão mais abertos à inovação tecnológica do que muitas organizações tradicionais. Sua familiaridade com plataformas digitais lhes dá uma vantagem natural para lidar com as demandas de um cenário cada vez mais conectado. Além disso, a própria ideia de “preguiça” parte de uma visão estereotipada: esses jovens só querem formas de trabalho mais flexíveis e significativas, o que é muitas vezes incompreendido ou visto como falta de empenho.

O que as pequenas empresas podem fazer para inovar?

Segundo o Sebrae, muitas micro e pequenas empresas ainda precisam passar por uma verdadeira transformação na forma de pensar e atuar. Inovar não significa necessariamente investir rios de dinheiro; trata-se de pensar fora da caixa, explorar novas possibilidades e adaptar-se às mudanças do mercado. Para isso, alguns passos simples podem ajudar:

– Ouvir mais o cliente e os colaboradores, considerando suas ideias e feedbacks;

– Utilizar a tecnologia de forma inteligente e prática para melhorar processos;

– Incentivar os funcionários a propor melhorias e participar de projetos inovadores;

– Estar aberto a experimentações, aceitando o erro como parte do processo.

Essas ações estimulam um ambiente propício ao crescimento, onde a criatividade é bem-vinda, exatamente o que jovens talentos valorizam.

A relação entre inovação e o perfil do jovem trabalhador

A opinião de que “os jovens não querem trabalhar” pode estar ligada a uma resistência cultural das empresas em se adaptar às novas demandas. Como ressalta a Exame, pensar fora da caixa é o primeiro passo para inovar e fazer a diferença. Empresas que permanecem rígidas e tradicionais podem parecer distantes da realidade desses jovens, que buscam propósito e inovação em seus ambientes profissionais. Quando há espaço para ideias novas e autonomia, eles se envolvem mais e entregam resultados melhores.

Conclusão

Antes de rotular essa geração como preguiçosa ou desinteressada, é fundamental refletir: sua empresa está realmente inovando? Está oferecendo um ambiente que valoriza criatividade, flexibilidade e novas formas de trabalho? Os jovens de hoje querem fazer a diferença e, mais do que nunca, buscam empresas que acompanhem seu ritmo de mudança.

Se a resposta para essas perguntas for negativa, talvez o problema não seja deles, mas da sua organização. Afinal, quem não sabe inovar, fica para trás. E quem insiste em não mudar, acaba perdendo o melhor talento que está chegando ao mercado — os jovens que, mais do que nunca, querem fazer a diferença.

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